Em meio a uma disputa judicial que coloca em risco a permanência da Associação Mata Ciliar em Jundiaí, uma causa maior se impõe: a preservação da vida silvestre e da biodiversidade nacional. Mais do que um debate sobre posse de terras, o caso representa um divisor de águas na luta ambiental brasileira.
Desde 1997, a ONG ocupa uma área de 33 hectares ao lado do Aeroporto Comandante Rolim Adolfo Amaro. Nesse espaço estão localizados dois polos de referência: o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres e o Centro Brasileiro para Conservação dos Felinos Neotropicais. Ali, mais de 1.500 animais recebem atendimento especializado, muitos deles de espécies ameaçadas como a onça-pintada e o lobo-guará.
Foto: Mata Ciliar
Disputa judicial e os riscos à continuidade do trabalho
A situação se agravou com a ação movida pela Rede VOA, concessionária do aeroporto desde 2017. A empresa alega que 2,98 hectares da área pertencem ao sítio aeroportuário e estariam sendo ocupados indevidamente pela ONG. Segundo a concessionária, a presença de animais atrairia aves de rapina, o que poderia comprometer a segurança das operações aéreas.
O conflito aumentou em 2020, com a construção de novos recintos próximos do espaço do aeroporto. No entanto, a Mata Ciliar contesta as alegações da concessionária. A ONG aponta a ausência de delimitação precisa da área e destaca que não há documentação oficial que comprove a posse da Rede VOA. A Justiça, inclusive, já negou um pedido liminar de reintegração de posse, por considerá-lo sem embasamento legal. O processo segue em fase de instrução.
Diante do ime, cogita-se a transferência da estrutura para a Serra do Japi. Contudo, os gestores da Mata Ciliar alertam que a proposta é inviável. Mais de R$ 25 milhões foram investidos ao longo de três décadas na estrutura atual, que inclui laboratórios, clínicas veterinárias, viveiros e recintos especializados.
A mudança afetaria diretamente a saúde dos animais, interromperia pesquisas em andamento e comprometeria atividades cruciais de reabilitação e educação ambiental. Recomeçar do zero significaria um enorme retrocesso em conquistas já consolidadas.
Três décadas de compromisso com a vida
Fundada em 1987, a Associação Mata Ciliar já atendeu mais de 32 mil animais silvestres. Seu trabalho ultraa fronteiras, com parcerias estabelecidas com universidades brasileiras e instituições internacionais, como o Zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos. Além da reabilitação de animais, a associação promove projetos de valorização. Conheça:
Projeto Guará
O Projeto Guará alia a preservação dos recursos naturais, com recuperação de matas ciliares e atuando na sensibilização das crianças e comunidades em prol da causa. O projeto tem como bandeira uma das espécies mais simbólicas e ameaçadas do Brasil, o lobo-guará. Atualmente o projeto conta com parceiros que já viabilizaram etapas importantes:
Construção de um recinto de 2.000m² para reabilitação de lobos-guarás;
A construção de quatro recintos para lobo-guarás que chegam ao Cras;
Aquisição de medicamentos e rádios colares para o tratamento e monitoramento dos animais;
Revitalização do viveiro de mudas da Represa do Jaguari;
De Olho nos Rios
A Associação Mata Ciliar promove o projeto De Olho nos Rios em parceria com a Petrobras. A ação promove a participação comunitária na gestão dos recursos hídricos. Assim, incentiva a adoção de práticas para a recuperação de áreas degradadas e conservação de áreas naturais, como fontes de sequestro de carbono e proteção da fauna silvestre.
Jaguaretê
O Centro Jaguaratê, Tecnologia Aplicada para a Conservação da Biodiversidade, é um núcleo operacional da Mata Ciliar que otimiza o atendimento aos animais silvestres que chegam ao Cras. O planejamento inicial contempla diversos setores da área da conservação. Na primeira etapa, a associação construiu as estruturas clínicas e de atendimento.
Vozes da Mata
O Vozes da Mata é um projeto embrião, mas que a Mata Ciliar destaque que precisa ser iniciado com urgência.O projeto propõe uma ação efetiva voltada para o atendimento, reabilitação, soltura e monitoramento dos bugios que chegam ao Cras. No entanto, a espécie está neste momento enfrentando uma situação crítica de conservação.
De acordo com a Associação, os bugios foram praticamente extintos da nossa região, onde em outra época viviam em grandes grupos. Depois de sucessivos surtos de frete amarela nos últimos anos, a população da espécie sofreu um grande declínio até ser oficialmente declarada como ameaçada de extinção na Lista Vermelha.
Para tirar o projeto Vozes da Mata do papel, a Mata Ciliar necessita de recursos como a ampliação das estruturas de reabilitação, monitoramento dos animais em vida livre e formação de corredores florestais.
A causa é de todos
A luta pela permanência da Mata Ciliar vai além da ONG. É uma causa coletiva que mobiliza ambientalistas, educadores, estudantes, pesquisadores, servidores públicos e cidadãos. A Serra do Japi, símbolo da riqueza ambiental de Jundiaí, já recebe ações de soltura de fauna realizadas em parceria com a Guarda Municipal — uma prova de que a colaboração entre instituições pode render frutos concretos.
Transferir a estrutura sem garantias de continuidade é ignorar décadas de conhecimento, investimentos e alianças científicas. É também romper o elo entre educação ambiental e as novas gerações que aprendem, com a ONG, a valorizar e proteger a natureza.
Na noite desta segunda-feira (9), a Câmara Municipal de Jundiaí recebeu uma Audiência Pública, promovida pelo vereador Henrique Parra e o Movimento Cardume, para discutir o futuro da Mata Ciliar. O encontro contou com a presença de representantes da sociedade civil, de entidades de preservação, autoridades do meio ambiente e da Deputada Federal Sâmia Bomfim.
O momento de agir é agora
Jundiaí tem a oportunidade de se posicionar como exemplo nacional: uma cidade que sabe equilibrar desenvolvimento urbano com responsabilidade socioambiental. Defender a Mata Ciliar é preservar um patrimônio inestimável de vida, ciência e esperança.
A mensagem deve ser clara: a Mata Ciliar fica. E com ela, fica também o compromisso com o futuro da biodiversidade no Brasil.
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